22/05/2009

Já não sou um elefante...

Erasure - Blue Savannah

 

Com a chegada do calor tudo se entorpece. A memória enfraquece e esquecemo-nos do que fizemos na semana passada. Por mais que se tente ataviar a coisa e até inventar memórias, nestes dias de calor é muito mais fácil esquecermo-nos das coisas. Mas também com um céu avivado com o mais perfeito dos azuis e um calor quase canicular, tudo o que passou deixa de ter importância.

 

Sou um tipo esquecido. Por parte do pai e de memória fraca por parte da mãe. Esqueço-me. Já houve dias em que ficava muito infeliz com esta perda de lembranças, especialmente das boas. As memórias ajudam-nos a lembrarmo-nos quem somos ou pelo menos do que fomos. Uma verdadeira cartilha para almas atormentadas. Era uma maçada não me lembrar quem era. Confesso que muitas vezes entontecia com isso. À falta de melhor solução e porque toda a gente diz que um elefante sem memória não é um elefante. Sentava-me na cabeceira da cama que dá para a janela. Cruzava os braços com força e tentava puxar pela cabeça. O primeiro beijo. O primeiro relógio. Tu. Aquele dia sentado na marginal. O meu primeiro vinte. As batatas fritas às seis da manhã. As voltas de carro com o meu pai. Aquele golo de cabeça. Os açores.

 

Sorria. Voltar a viver essas coisas deixava-me no mais elevado estado de felicidade humana. O esforço quase inumano de me lembrar da minha vida passada era de facto um empreendimento ditoso. Mas ao mesmo tempo enervava-me o facto de não em conseguir lembrar de tudo. Talvez não tivesse sido assim tão importante ou talvez me tenha esquecido. Talvez. No entanto, muitas vezes dava por mim a lembrar-me das coisas mais minúsculas, aparentemente insignificantes. Tava tudo ao contrário pá… Não havia qualquer regra nesta coisa das memórias. A partir do momento que me apercebi do caos que existia no processo fiquei mais aliviado. Não existindo nele a elegância de uma qualquer lei newtoniana podia finalmente deixar de me arreliar com as lembranças.

 

Já não sou o que fui mas sim o que sou (queria escrever isto de outra forma mas mal consigo manter as pálpebras abertas). Tempo de recolher aos aposentos presidenciais minha gente.

 

Muitoooooo sono…

Sem comentários: