04/04/2015

Os lugares da nossa rua…



Há lugares que ficam no outro lado da rua. Lugares pelos quais passamos, sem saber e sem sentir, umas vezes a sorrir outras no mais absorto dos pensamentos. Sítios com gente dentro. Gente com mil e uma cabeças ou sem cabeça, gente que matou gente, gente que já não é gente e nós do lado de fora, tão aprumadinhos.

Passei por aquela rua vezes sem conta, muitas das vezes tendo como missão a espinhosa e complexa tarefa de comprar o Independente e um pacote de paivantes para o avô. Eram os belos tempos em que os putos ainda conseguiam comprar cigarros. Eram tempos de ter avô e de ter menos 30 anos nos costados. Ah, como foste um puto feliz.

Voltando aquela rua e aqueles lugares que nunca vemos e nunca sentimos. Do outro lado do muro, ei-lo no seu circular esplendor o pavilhão oito do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda. O seu cheiro a leite tresmalhado, as paredes rasgadas com as mãos, salpicos de um vermelho sangue, latrinas cheias de merda e um bando de loucos…


E eu e nós no outro lado do muro…

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