José Afonso - Os Bravos
Depois de qualquer exasperante espera, o nosso reino perde-se em inúmeros mimos desajeitados e irreflectidos. Amanhã volta a ser Segunda e todos os povos do meu corpo me pedirão isto ou aquilo.
Amanhã é outra vez Segunda no nosso reino de fantasia. Hoje não sei se conseguirei posar a minha cabeça na nossa cama, quero resolver isto de acabado e já. Sempre gostei das Segundas pelas promessas de coisas feitas e das coisas por fazer. Segunda sempre foi dia de acordar sem medo ou arrelia de maior.
Não quero dormir. Deixei de saber disso de dormir desde o dia que te foste embora, na semana passada. Por mais que me queira controlar, este prometimento do nosso reino transatlântico mexe comigo. O meu peito apartar-se em dores desumanas, que em vez de me de me prostrarem no mais suave e doce dos desfalecimentos, acordam-me, puxando-me as pestanas sem a menor comiseração.
Logo eu que sou tanto avesso a amores sem fim. Logo eu que estou sempre a dizer aos outros, e muitas só a mim, que ninguém morre de amor.
É essa a minha maior preocupação, aprontar de pronto os barcos, as provisões e os canhões e dar novos mundos ao nosso reino além-mar.
Concorrer, concorrer, concorrer… Insistir, insistir, insistir… Mesmo de ressaca sinto um fruir de uma maluqueira maluca…
Façamos do nosso reino uma empresa maravilhosa…